sexta-feira, outubro 23

25/26 de Agosto

Calaram-se. Abriu a porta suavemente e de repente o silêncio inundou a minha cabeça, o branco invadiu os meus olhos, os lábios tornaram-se roxos.
Não sei como, estavam todos ali. Mas o que estariam eles a fazer, que seria aquilo.
Senti que começara a chorar inconscientemente. Mas porquê.
Houve quem me apertou tanto, com tanta força, que nesse instante voltei a mim; voltei a ver, a ouvir, a pensar.
É para ti, alguém disse. E eu sorri como uma criança sorri quando lhe dão prendas no Natal. Na realidade, era mesmo uma criança, mas não estava no Natal e "aquilo" que me deram foi mais do que uma prenda, foi uma dádiva.
Olhei novamente para a quantidade de gente que ali estava, ouvi melhor a música que pairava e percebi que era eu que estava ali a ser representada. Percebi que aquela era a minha vida: os amigos e a música.
E eu, que não acreditava na perfeição, pensei que ela estava ali, à minha frente. Que estavam finalmente reunidas todas as condições para a felicidade.
Só depois me apercebi que se tinham movimentado por mim porque eu estava prestes a partir. E logo comecei a chorar outro tipo de lágrimas, as lágrimas da solidão.

domingo, outubro 18

Aqui

Falaste durante meia hora seguida e eu não entendi uma única palavra. Talvez a minha capacidade auditiva esteja a enfraquecer. Talvez não.
Perguntaste como estava o tempo aqui, como tenho passado, se estou a gostar. Mas eu não respondi, aliás, nem sequer tenho a certeza se foi isso que disseste.
Depois, sem perceber como, disse que estava tudo normal e pousei o auscultador.
Baixei o volume da música porque estava muito ruído na sala. Se calhar não estava assim tanto.
Doía-me muito a cabeça e tudo me perturbava. Até uma mosca que passou me enervou de tal forma que derrubei a estante dos CDs com tamanha força que ainda hoje não entendo como nenhum se partiu.
Contudo, agora percebo que não era a cabeça que doía, não eram os ouvidos que perdiam capacidades.
Porque razão perguntas como está o tempo se não estás aqui ?